segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lavando a honra


      “Vivemos em uma sociedade machista, que ainda guarda o ranço de achar que a mulher é um ser frágil e inferior ao homem, de raciocínio fraco e que precisa da tutela de seu pai e irmãos e depois de casadas, do marido.
      Mesmo elas estando inseridas no de trabalho e exercendo o papel de chefe de família em muitos lares, alguns homens ainda as enxergam como propriedade sua, que lhes deve obediência e que podem ser castigadas quando se ‘comportam mal’.
      Em uma cultura que acha que ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’, vemos mulheres sendo espancadas por seus companheiros e até mesmo mortas, com uma conivência da sociedade que diz que ‘apanha porque gosta’, ‘apanha porque é mulher de malandro’ ou o absurdo de ‘apanhe quieta e não incomode os vizinhos’.
      Isso tem que acabar!
      Violência contra a mulher é um problema da sociedade, não só da pobre vítima que sofre sozinha em casa.
      A mulher não é inferior ou propriedade do homem e:
      - Ninguém tem o direito de maltratar ou tirar a vida de ninguém.”

      Fiz sim, Doutor! Não nego não. Fiz o que tinha que fazer! Fiz o que todo homem com vergonha nas ventas faria!
      Onde já se viu, Doutor, mulher casada se comportar assim? Andar quase nua, sorrindo pra macho no meio da rua? Se exibindo toda saidinha?
      Se eu não fizesse nada Doutor, sabe o que iam dizer de mim? Sabe o quê?
      - Olha lá, o corno manso! A mulher dá mole pra outro na cara dele, e o frouxo faz de conta que não tá vendo nada!
      Não foi ninguém que me disse não, Doutor. Eu vi! Eu vi! Ela lá de conversa com o Zé Leocardio toda oferecida! É esse o respeito que ela tem por mim, Doutor? Essa desavergonhada?
      Eu me matando de trabalhar pra comprar comida boa pra casa, roupa,  sapato e perfume caro pra ela, até joia, Doutor, eu dei. Eu banco o luxo da safada, de tanto que gosto dela, e quando viro as costas ela se engraça com qualquer um? Eu salvei aquela filha da puta da fome, e é assim que a ingrata me paga?
      Lá na terra dela, Doutor, naquela seca da porra, ela passava fome com a família toda. Já tinha até irmão morto, por conta da necessidade.
      Doutor, eu trouxe aquela piranha comigo aqui pra São Paulo, dei meu nome pra ela, casei de papel passado, fiz até festa, e a desgraçada faz isso comigo? Eu não podia deixar passar em branco não, Doutor! Não podia! Por isto rasguei a cara dela! Pra toda vez que aquela prostituta se olhar no espelho, se lembrar de mim e se arrepender de não ter me dado valor!
      Fiz com ela o que ela mereceu, Doutor! Fiz sim!
      Agora eu quero é ver quem vai ser o macho, que vai querer dormir com aquela vaca! Eu quero é ver quem vai ser o macho, que vai querer uma vadia de rosto remendado!
      Mas sabe de uma coisa, Doutor:
      - Eu só fiz isso porque a amo aquela mulher! Como amo, Doutor, aquela cachorra!
       Eu só fiz isso porque não queria perdê-la!
Kátia Pessoa – 07/10/2010

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