quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O genro






      "O Brasil é um país racista sem racistas!
      Qualquer pessoa com o mínimo de senso crítico, percebe que há uma  grande desigualdade nas condições de vida de brancos e negros, como por exemplo o fato de até bem pouco tempo atrás - antes da política de cotas e do PROUNI - só 3% da população acadêmica ser negra, ou a maioria da população carcerária ser composta por pessoas de pele escura.
      Por que será que faltam negros na universidade e sobram nas cadeias?
      Nossa sociedade apesar de miscigenada, ainda tem a cor branca como referencial de beleza e sucesso.
      Infelizmente é comum famílias negras pensarem em fazer casamentos que as embranqueçam, ou famílias brancas que não querem escurecer.
      Muitas pessoas tem atitudes racistas e nem se dão conta disso, reproduzindo no dia-a-dia falas e atitudes preconceituosas, por conta do racismo estar entranhado na sociedade que nos cerca. 
      Precisamos estar vigilantes para dar um basta nesta injustiça, e garantirmos que todas as pessoas tenham seus direitos respeitados, a igualdade na diferença."     

      Onde já se viu querer casar com preto? Com preto?

      Com tanta coisa melhor por ai pra escolher, querer casar logo com aquele negão, de beiço grande assim? Com o nariz achatado assim? Preto que chega a ser azul?

      Valha-me Deus, que coisa feia!

      A gente só vê nele o branco dos olhos e dos dentes. No escuro, o bicho até some.

      Eu não entendo como alguém pode gostar de deitar na cama com um tição desses. Eu não entendo que graça tem. Imagina o negão lá na cama em cima dela? Dá até gastura de pensar.

      Mas deixa pra lá! Quem vai deitar com ele é ela mesmo, não sou eu. Foi ela quem escolheu, depois que não venha se queixar.

      Tinha quer ser ela pra fazer isso. Tinha que ser ela. Essa menina sempre me aprontou. Sempre me deu trabalho. E agora isto!

      Eu não sou racista não, mas se pode melhorar a família, porque estragar? Se pode branquear, porque escurecer?

      Por na família um negão com um cabelo todo enroladinho assim, ruim assim. Um cabelo daquele nem água entra.

      Já tô até vendo os filhos dela. Vão sair todos pretinhos, de cabelo assim em pé, todo estragado.

      E ela que não ache que vou ficar alisando os cabelos das filhas dela com o ferro quente, só porque sou vó. Ela que não ache que vou ficar fazendo aquelas trancinhas. Acho ridículas aquelas trancinhas! Se fossem minhas filhas eu tosava o cabelo. Metia a tesoura. Mandava até raspar a cabeça.

      Se bobear quando ela vier me visitar, eu olho lá de cima da casa a cor da criança nos braços, e se for pretinha nem deixo entrar. Quem mandou deitar com preto? Quem mandou deitar?


Kátia Pessoa – 20/11/2010



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