quinta-feira, 19 de maio de 2011

Balé em cima do muro





      "Em cima do muro é como vivem muitos brasileiros, que não se metem em política, não discutem religião nem escolhem time de futebol."


      Está bom aí em cima do muro, não está, criança? Muro onde você baila, pirueta, dança, equilibra-se, gira para cá e para lá. Muro onde com o vestido e os cabelos ventados você sorri, não é criança? Tralalá...

      Faz sol manso em você, não é menina? Sol que a doura. Confortável você está! Menina, você pensa que em cima do muro pode ficar. Você pensa que em cima do muro segura está. Você pensa que em cima do muro nada lhe faltará. Mas, já pensou que você pode se desequilibrar, menina? Ou que no muro você pode cansar de ficar? Se isto acontecer já pensou no que fará, menina? Que lado escolherá? Tralalá.
      ...

      ...

      ...

      A situação mudou, moça! O povo ameaçou revolução e o tempo fechou. Agora chove, moça! Agora chove! E ainda vai cair uma tempestade. Você tem que descer para se abrigar, moça. Um lado você vai ter que escolher. Um lado você vai ter que apoiar. Quem você será, moça? Quem você será? Tralalá!

      Corre, mulher! Corre! Seu tempo acabou! A guerra civil chegou! Tem bala voando e matando pra tudo que é lado! Mulher, em cima do muro sozinha como se protegerá? Tralalá!

      ...

      ...

      ...

      Chora, senhora! Chora! É só isso que pode fazer agora, porque a senhora calou quando deveria falar. Não escolheu um lado pra lutar, agora ninguém quer lhe ajudar! Tralalá!

      - Pá! 

      ...

      ...

      ...

      Acalmado os tiros, pulando corda as crianças cantam. As deste lado daqui do muro, junto com as crianças do lado de lá:

      “A senhora de cima do muroo

      A senhora de vestido vermelhoo

      Levou tiro de escopetaa

      Levou tiro na cabeçaa

      Tralalá!" 



Kátia Pessoa – 05/08/2010



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