quinta-feira, 19 de maio de 2011

A rainha do coração dos homens






      "Eu já tive muito preconceito em relação às prostitutas.
       Achava degradante a existência de alguém que fazia sexo por dinheiro.
      Hoje com um pouco mais de experiência de vida, e com uma visão mais abrangente das coisas, menos preconceituosa, tenho até admiração por elas. Pelo seu desprendimento de atender aos homens.
      Mesmo que para alguns a comparação pareça um sacrilégio, as comparo com aquelas benzedeiras que abrem a casa para quem precisa, nunca negando uma reza.
      Por mim, tanto as benzedeiras como as prostitutas prestam um grande serviço para a sociedade, e merecem ganhar medalhas pelo mérito dos serviços prestados.
      Mas apesar da atual tolerância e respeito pelo meretrício, ainda acho que sexo não deveria ser ‘vendido’, mas praticado pelo simples prazer que ele trás.”     

      Sou mulher de muitos homens, graças a Deus!

      Experiente, um pouco de tudo já fiz. De satisfazer macho na cama, sou diplomada. Melhor assim! É a minha certeza de que não morrerei de fome.

      Quando estiver velha, talvez dessa vida cansada, sei que não me faltará cliente fiel que me acolha, casando-se comigo. Cliente de visita regular, que década após década, continua religiosamente freqüentando a cama de uma mulher que não é sua esposa.

      Eu tenho sal e pimenta! Minha carne é bem temperada!

      Só dinheiro não me basta. Não aquieta minha alma. Eu escolho com quem deito, indiferente de quanto é a paga!

      Meu orgasmo não se compra. Ah, do homem que me deixar ardendo, na mão!

      Não sou mercadoria a venda. Sou mulher que de alguns homens aceita “favores e gentilezas”. Não sou puta de rua, embora respeite as que o sejam. Não trabalho em bordéis! Abro minha casa agradável, limpa, bem decorada, para os homens especiais que com discrição recebo.

      Sou bonita, culta, elegante e companheira. Na sociedade, a nenhum deles constrangeria.

      No decorrer dos anos não foram poucos os pedidos de exclusividade. Com oferta de casa maior e mais conforto para uma rainha. Mas sempre disse não! Não enquanto pulsar em mim o viço da juventude. Não enquanto pulsar em mim esse querer de música, bebida, amor, alegria. Não enquanto meu corpo não amornar, pedindo recolhimento, fim de festa, luz apagada, casa de porta fechada...

      Assim, ano após ano, caminhamos juntos eu e meus companheiros. Espelhando um ao outro, sou parte deles como eles são parte minha. Vemos surgir em nossos corpos marcas, fios brancos nos cabelos e um cansaço que vai se instalando aos poucos.

      De meus companheiros escuto histórias de trabalho, filhos que crescem, netos que chegam, enquanto tomamos café. Não ficamos mais juntos só por sexo, é um laço mais forte que isso. Depois de tantos anos, é respeito, consideração, amizade. Mesmo que meu corpo não guarde mais o esplendor de flor que desabrocha, ainda sou por eles muito amada.

      Daqui a algum tempo, eu, respeitada senhora de cabelos brancos, serei a família de alguns deles assim apresentada:

      - Esta é Dona Marcelina, amiga de papai desde os tempos de juventude!
   

Kátia Pessoa – 03/04/2010



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