sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Recaída


“Não é fácil sofrer de uma doença grave que pode nos levar a morte. Sempre temos tantos planos para o futuro, e pessoas que amamos aqui na terra que não queremos deixar.
      Para vencermos essa doença ruim nos sujeitamos a tratamentos dolorosos. Depois de curados achamos que o sofrimento ficou para trás,  e uma nova vida começa.
      Assim a vida segue, mas as vezes acontece de sentirmos nosso corpo mudar, apresentando os mesmos sinais que outrora foram motivo de desespero. O diagnostico da volta da doença cai como uma bomba em nossas cabeças.
      Quando isso acontece, a revolta e o medo tomam conta da gente, mas precisamos dominá-los e encontrar forças para começar tudo de novo.”
      Vai começar tudo de novo, meu Deus? Tudo de novo? Todo aquele sofrimento?
      Meu corpo de dores varado. Um pedaço de mim arrancado. Cirurgia e pontos que inflamam. Tratamentos e mais tratamentos. Eu cada vez mais pálida. Eu cada vez mais magra. Cabelos caindo, pele ressecando, me desfazendo em vômitos. Definhando, definhando...
      Será que essa guerra nunca acaba? Me sinto num ringue, brigando, levando porrada. Caindo no chão, sangrando, tentando me manter acordada. O juiz gritando, eu junto as forças e me levanto, vem o adversário e bate mais. Viro o jogo no último instante. Venço exausta. Mal minha alma recuperada, lá vem rasteira, sou jogada em uma nova batalha.”
      Na primeira vez, o medo foi meu companheiro tagarelante. Ele me falava da morte. De sua vontade de me ter em seus braços, em noite de sono eterno. Mas eu não podia morrer! Não podia! Era ainda tão jovem. Tinha filhos tão pequenos...
      Agora, junto com as dores e meu corpo que muda o medo voltou. Ele já não diz nada, só me olha como quem afirma:
      - Eu não disse que ela te queria? 
      Mas eu não vou me entregar! A morte não vai me levar assim tão fácil. Eu a vencerei de novo! Vencerei sim!
      Vou tirar suas garras de dentro de meu corpo, nem que para isso eu tenha que arrancar o outro seio!

Kátia Pessoa – 26/08/2010


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