segunda-feira, 18 de abril de 2011

Amor Virtual






      "É fato que a internet encurta distâncias, e pessoas mesmo que geograficamente distantes se sentem perto umas das outras.
      É fato também que muitos amores que nascem virtualmente, se tornam casamentos reais.
      Agora, quando o amor é platônico, vivido só por uma das partes envolvidas, não há internet que dê conta!" 


      O namoro de Ana segundo Ana, era moderno, tecnológico, intelectual, sem essas coisas primitivas de beijos, amassos, troca de fluídos, etc. Coisas da idade da pedra que felizmente, achava Ana, foram substituídas pelo avanço da modernidade, onde as emoções envolvidas eram mais significativas que o toque entre os parceiros. 

      O namoro de Ana segundo Ana, era promissor, e estava prestes a virar noivado, com Ana teclando frases românticas com uma argola dourada no dedo da mão que segurava o mouse. Em pouco tempo a partir do noivado, Ana previa casamento, com ela vestida de noiva em frente ao computador, dizendo: “Sim, meu amado. Eu aceito viver assim com você para sempre!” 

      O namoro de Ana segundo Ana, era completo de palavras, de frases bem feitas, longas e bem pontuadas. Para isso muito lhe ajudava o corretor ortográfico de seu computador, que funcionava como um verdadeiro mestre de cerimônia que unia o casal. Dispensava assim Ana coisas como o sermão de benção feito pelo padre, ao vivo em igreja lotada de convidados.

      O namoro de Ana segundo Ana, percorria distâncias, unindo o casal que vivia em mundos tão distantes. Mesmo com Ana aqui, lutando por sobrevivência, e o namorado lá, se divertido em baladas e festas, o amor envolvia os dois!

      O namoro de Ana segundo Ana, era cúmplice, parceiro. Pelo teclado, Ana contava a seu amado todas as suas mágoas, todas as suas alegrias, todas as suas expectativas. Contava tudo em textos longos, em cartas cheias de mágoa, amor, medo, desejo, e com isso Ana se sentia muito feliz.

      O namoro de Ana segundo Ana, era olhar na tela do computador o rosto do homem amado, o eleito de seu coração. Ana na tela lhe acariciava a pele, beijava a boca, mexia em seus cabelos. Engolia Ana com os olhos a imagem de seu namorado, como se o comesse, e sentindo-se farta, dava-se por satisfeita com o que dele tinha! 

      O namoro de Ana segundo Ana, era monogâmico e fiel. Ana não tinha olhos para nenhum homem de carne, pelos e músculos que estavam a seu redor. Todos eram sem graça, apesar de reais e palpáveis. Melhor que todos eles para ela, era seu amado virtual. 

      O namoro de Ana segundo Ana, era muito bonito, raro de se ver. Um amor de endoidecer.

      E esse amor endoideceu Ana mesmo.

      Endoideceu tanto, que Ana não percebia que seu namorado de tanto tempo, com quem ela fazia tantos planos de viver para sempre feliz, era uma celebridade que Ana só conhecera por fotos e vídeos na internet, e que nem sabia que Ana existia!


Kátia Pessoa – 18/04/2010



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