quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sangue jovem


      "Jovem sempre luta por mudança - ao menos deveria - buscando um futuro melhor.
      Eu mesma comecei bem cedo, aos 15 anos no Movimento Estudantil e passando por outros movimentos sociais.
      Quem está de fora destes movimentos, não tem noção que muitas pessoas dão o sangue e até sua vida, brigando para que as coisas mudem e todos tenham condições dignas de vida.
      Desses heróis anônimos do povo, desconhecidos fora de suas bases, ninguém fala."
               
      Não dá pra ficar dormindo em cama quentinha, com tanta injustiça no mundo. Não dá não! Eu preciso fazer a minha parte pra tudo isso mudar.  Pra ter um Brasil melhor. Pra ter um futuro melhor.
      Tem manifestação marcada na Av. Paulista amanhã. Nós vamos parar aquela porra lá! Vamos encher aquela avenida de gente e bandeira.
      Vão ser milhares e milhares de pessoas. Todas as entidades estão  mobilizadas pra trazer gente. Nós vamos gritar bem alto nossas palavras de ordem, fazer nossas reinvindicações. Vamos sair em passeata até o Anhamgabaú. Vai encher de rede de TV pra nos filmar. Nossa mensagem vai ser passada pra todo o país ver, e o Governo vai nos escutar. Vai ter que nos receber pra negociar.  
     A minha galera vai ajudar na mobilização. A juventude vai pichar todos os muros daqui da nossa região, chamando os trabalhadores, os estudantes, os desempregados, as donas de casa, chamando todos para o ato. Vai ficar todo mundo avisado. A gente coloca o motivo, o local e a hora. Nós vamos fazer a revolução!


      - Rafael, a gente tem que pichar os muro da avenida. Ela é um corredor de ônibus. Passa um monte de trabalhador lá de manhã cedo. Só que a gente tem que fazer isso rápido, Rafael, pra não arranjar briga com os outros pichadores. A gente não tá aqui pra arranjar briga. Nem com eles nem com o pessoal quer faz colagem, entendeu?
      - Tá certo, mano. Ou tu acha que é a primeira vez que eu faço isso?
      - É, só que da última vez saiu até tiro, vacilão! Você demorou no serviço, chego a turma que trabalhava pro filho da puta daquele vereador corrupto, e aqueles bandidos quase que pegam a gente. Se a gente não sai correndo pela viela, nós taríamos é mortos agora!
      - Caralho, Marcelo, a culpa é sempre minha?

   
      Marcelo, eu tô misturando o corante com a cal e o fixador, mas tá fraco. A mistura em vez de vermelha vai ficar rosa. Ninguém vai enxergar porra nenhuma!
      - Cê tá tirando uma da minha cara, Rafael? Você acha que eu tô brincando? Você não comprou corante, seu merda?
      - Pô, Marcelo! O dinheiro era pouco. Comprei o que deu.
      - A manifestação é amanhã, caramba! E agora, meu Deus? E agora?
      A gente precisa fazer este trabalho. A gente precisa... Onde a gente vai arranjar corante vermelho agora, essa hora da noite? Onde?


      Rafael, tive uma ideia! Você trouxe o seu canivete?
      - Trouxe sim, por quê?
      - A gente vai misturar o nosso sangue no cal da lata. Tem bastante fixador, vai funcionar! A gente vai usar o nosso sangue, pra ajudar a dar cor a essa tinta.
      - Marcelo, você tá brincando, num tá? Ficou louco, cara?
      - Não tô louco não, Rafael. A gente vai é deixar a nossa mensagem, gravada no muro com nosso sangue, pra todo o povo ver!
      A gente vai dar nosso sangue pra revolução!

Kátia Pessoa – 04/11/2010

         

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