quinta-feira, 19 de maio de 2011

Viúva de homem vivo


      "Muito se brinca com as mulheres que apanham em casa, as famosas 'mulheres de malandro', porque elas teriam prazer em apanhar.
      Elas viram motivo de chacota de preconceituosos, que não param para pensar que há mulheres que quando são agredidas, ficam com medo de reagir e as coisas ficarem ainda piores para elas e seus filhos.
      Muitas mulheres que nem ao menos trabalham para cuidar somente da casa, se não tiverem ajuda, saindo de casa não teriam nem o que comer.  
      A violência contra a mulher só vai acabar, quando toda a sociedade estiver envolvida em combatê-la. A mulher agredida precisa de apoio e respeito."

      Fátima se tornara viúva, no exato momento em que a mão de seu marido, com quem fora casada por dez anos e tivera dois filhos, descera em tapa por seu rosto.
      Naquele exato instante, o marido dentro do seu coração morrera. Tivera morte súbita. O homem que com amor lhe engravidara, e com o qual vivera feliz por tantos anos, não mais existia. Ali a sua frente, estava um outro homem, que ela jamais escolheria.
      Apanhou Fátima. Mas não sem reagir. Mas não sem protesto. Mas não sem revide. Mas apanhou. Por ser mulher de corpo frágil. Por ser de natureza doce, não agressiva. E mesmo se defendendo, saiu machucada. Com feridas visíveis e invisíveis. Daquelas que cortam até a alma.  
      Decidida que tal ato nunca mais se repetiria, e que essa violência seus filhos não atingiria, resolveu pegar suas crias e ir embora. Iriam sumir das vistas, das garras do ex-marido. Iriam para longe, muito longe. Para lugar onde ele não os acharia.
      Assim que o estranho saiu, para onde ela não sabia, rápido juntou Fátima o necessário que pode. Pegou os filhos e saiu correndo as pressas. Foram assustados em busca de abrigo.   
      Fátima que se tornara viúva de homem vivo, com filhos pequenos para criar e proteger, teria que encontrar nela força para sobreviver, nem que fosse revirando suas proprias tripas.
      Agora Fátima, mulher sem marido, teria que enxugar as lágrimas, e cuidar da família sozinha.
Kátia Pessoa – 15/03/2011

 

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