segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A visita






      "Sou kardecista desde pequenininha. Opção de meu coração, não de minha familia que era católica.
      Sempre achei que deveria existir outras vidas, para justificar tamanha desigualdade entre os homens. 
      Acredito que o laço entre as pessoas que se amam sobrevive à morte, e que a terra não é a nossa única morada."

      Boa noite, mãezinha querida! Desculpe não ter vindo antes visitar a senhora. Eu não pude. Estava um pouco atrapalhado com tudo o que aconteceu. Mas agora estou bem. E vim mostrar à senhora para que tenha certeza.

      Estou na companhia de vovó Lucila, mãezinha. Ela está ótima e cuida muito bem de mim. Foi ela que me recebeu quando cheguei de mudança. Ela não pode vir comigo hoje. E pediu que eu dissesse que ela ama muito a todos vocês. E que sente muita saudade. Ela disse que daqui a pouco estaremos todos juntos novamente. Mas que enquanto isso não acontece que sigam em frente com fé em Deus. Nosso pai e protetor que nunca nos desampara. 

      Mãezinha, eu sei que a senhora tem chorado muito de saudade minha. Oh, mãe! Não precisa disso não, sua bobona! Eu estou ótimo! Veja! Não me falta nada. Estou tranqüilo como nunca estive antes. E até minhas dores passaram, mãezinha. Isto não é maravilhoso? Me sinto novo em folha. Eu sentia dor desde que nasci. Não é, mãe querida? E a senhora sempre cuidou de mim. Eu lhe agradeço muito, viu? Mãezinha, não sentir dor é uma sensação tão boa!

      Eu passei no quarto dos meus irmãos agora, antes de vim lhe ver. Como eles cresceram, mãezinha. Marcia já é uma moça e Roberto um rapaz. Eu sei que vocês estão cuidando muito bem um dos outros. Sei que são muito unidos. Mãe, eles vão ser muito felizes. Acredite! Vão ser alguém na vida e lhe encher de orgulho, Dona Maria. E vão lhe dar netos que vão encher esta casa de alegria. 

      Mãezinha, eu preciso partir agora. Mas quero que saiba que meu pensamento está sempre na senhora. Eu te amo muito.

      Eu vou demorar um pouco a voltar a lhe visitar, mas não pense que eu a abandonei. Eu nunca lhe abandonaria, mãezinha. Nem a senhora nem aos meus irmãos. Só precisamos esperar um pouco para reunirmos toda a família novamente.

      Durma, mãezinha. Descanse. Eu sei que a senhora está muito cansada, por isso vou lhe fazer um pedido:

      - Mãezinha, não precisa visitar o meu túmulo todos os dias. Mãezinha, não precisa!


Kátia Pessoa – 27/12/2010



Nenhum comentário:

Postar um comentário