quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sorriso matado





"Precisamos aprender a falar não para as coisas que nos machucam em uma relação, para que elas não nos matem aos poucos..."
     
      
      O sorriso de Jorge morreu. Fui eu que o matei, eu acho. Deve ter sido...

      Quando eu conheci Jorge ele sorria largo, aberto. Um tipo encantador. Era cheio de mulher em torno dele suspirando. Ele me escolheu pra ser sua esposa assim que me viu. Eu o aceitei pelo seu sorriso.

     Namoramos. Casamos. Tudo como manda os conformes. Fomos felizes. Ao menos nos primeiros anos...

      Não tivemos filhos. Ele quis, eu não! Ele não teve. E Jorge não era homem de ter casos, filhos fora do casamento. Acho que foi isto a primeira coisa que deixou doente o seu sorriso.

      Depois veio o desgaste natural da passagem do tempo. A rotina, o cotidiano. E meus amantes! Eu tive alguns, sempre mais jovens do que ele. Sempre com a mesma idade: 21, 22, 23. Nunca passavam de 24 anos. E os casos de poucos meses.

      Jorge fazia de conta que não sabia de nada, mas é claro que ele sabia! Sempre soube dos homens que eu tinha fora de casa. Jorge não era bobo. Pelo contrário, era uma raposa. Farejava as coisas longe. Ele sabia sim! Eu notava por seu sorriso. Cada vez mais raro. Cada vez mais fraco. Até que se apagou de vez...

      Faz três anos que não vejo Jorge sorrir. Da última vez até me lembro. Foi quando encontramos um amigo seu, por acaso. Ele estava com uma criança de uns dois anos brincando em seu colo. Seu neto. Jorge apertou a sua mão e sorriu afável pra criança. Um sorriso doce. De alguém que se despede feliz do mundo. Vai em paz. Foi a última vez que vi Jorge sorrir...

      Jorge agora está carrancudo. Ranzinza. Sua cara é um azedo só! Ele está deixando de falar. Ao menos comigo. Quando pergunto algo ele responde por grunhidos. Range como um cachorro, avisando que vai avançar.

      Eu amava o sorriso de Jorge. Sempre amei.

      - Jorge, me perdoa?


Kátia Pessoa – 29/11/2011



Um comentário:

  1. Prezada Kátia, fiquei impressionado com a qualidade dos teus textos. São simples, diretos mas muito bem escritos. Já és uma escritora de sucesso, só falta publicares tuas cronicas e contos, se é que já não os fez.Somente hoje me deparei com o teu blog e li mais de vinte textos em menos de duas horas. Sou um leitor assíduo e conhecedor de grandes escritores. Continue para nosso bem. Do amigo Reginaldo. E-mail reginaldonovo@yahoo.com.br

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