sábado, 4 de dezembro de 2010

Princesa mulata


      "Nunca foi fácil ser negro no Brasil.
      Com a abolição da escravatura os negros foram jogados a própria sorte, sem lugar para ir, sem trabalho, sem comida, com o intento da elite dominante branca de que em pouco tempo morressem, ficando o Brasil branqueado com o sangue dos italianos imigrantes, que vieram para cá trabalhar nas lavouras de café.
      Hoje por conta da opressão que persiste contra as pessoas de pele escura, temos pessoas que negam a própria cor, tentando ser mais brancas do que realmente são, para poderem ser aceitas pela sociedade.
      Precisamos lutar muito para conseguirmos ter um país que respeite seus cidadãos, e ofereça a todos as mesmas oportunidades
indiferente de cor, gênero ou condição social.”

     
      - Ela tem a cara do pai e a cor da mãe...
      - O pai e a mãe tem quase a mesma cor.
      - Não tem não. Ele é branco e a mãe é negra. Ela vai escurecer. Ficar da cor da mãe.
      - Não vai não! Vai puxar o pai, branco. Seu cabelo é liso liso.
      - Pode cair e nascer o definitivo, enrolado igual o da mãe.
      “Vai ser princesa mulata linda linda! Coisinha fofa da titia!” 
      - Não vai enrolar não, senão já tinha nascido assim! Eu vejo lá, as crianças no hospital, que já nascem com o cabelo tonhonhoim, bem enroladinho.
      - Mas ela não é branca. Vai puxar o avô e o tio.    
      - Sua pele tá trocando. Vai clarear. É preciso esperar três meses, para saber a cor que ela vai ficar.
      - Ela vai é escurecer! Olha só as orelhas e a ponta dos dedinhos? A cor escura das perninhas? Vai ser negra linda!
      - É vermelhidão. Ela acabou de sair do banho!
      - Ela vai ser mulata linda!
      - Mulata não! Morena clara, como a mãe!
      - Se não é branca, é negra.
      - Por que você quer colocar a gente sempre pra baixo?
      “Que princesinha linda!”
      - Deixa a menina ter a cor que tiver que ter! Ela vai ser uma mulatona. Alta que nem o pai e a mãe.
      - Pode ser. Mas precisa esperar pra ver se não fica branca. Branca como você!
      Sua tia disse a mesma coisa quando você nasceu. Que você escureceria, e olha você aí, branquinha. Clareou, clareou. Se escurecer, fazer o quê? É neta. Mas vou esperar pra ver. Ela há de puxar o outro avô. O outro, que é branco e de olho azul.  
      Minha neta não é negra!
Kátia Pessoa – 01/11/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário