quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Na corda bamba






      "Muitas pessoas costumam falar que a mulher que apanha do marido e não o abandona é "mulher de malandro", como se as mesmas gostassem de serem agredidas.
      Essa fala é carregada de preconceito e não analisa o contexto de vida dessa mulher, como sua capacidade econômica para se sustentar e aos filhos sem o companheiro, condição emocional para recomeçar, etc.
      Muitas mulheres vivem em clima de terror dentro de seus lares, em constante torturta física e emocional. Elas precisam da ajuda e respeito de toda a sociedade, e não virarem motivo de chacota." 
      

      Lúcia não entendeu o que aconteceu, quando a mão de seu marido caiu em seu rosto não em carinho, como fora desde os tempos de namoro, mas em agressão.

      - Se nada grave fizera, isso não merecia. Por que então?

      Lúcia pega de surpresa, porque por tal coisa nunca esperara, não sabia o que fazer, não sabia o que pensar, não sabia o que falar e começou a chorar.

      Foi um tapa dado por seu companheiro em um momento de discursão, seguido de pedidos de desculpas, suplica de perdão. E agora? Perdoar? Esquecer? E se isso acontecesse de novo? E se não? O quê fazer? Ficar em casa? Ir embora? Ir embora pra onde então? Ela com filhos pequenos? Ela que nunca trabalhara fora? Ela com família longe do Estado? Ela que não tinha amigas ou um tostão furado?

      Se a agressão não se repetisse, ela com o tempo a enterraria no passado. Mas, e se uma vez que o limite fora ultrapassado outros tapas viessem? Os xingamentos aumentassem? As agressões crescessem? O que faria então? Ela mulher sozinha, com filhos, sem dinheiro e profissão?

      Naquele momento, Lúcia estava perdida, sem saber qual a certa decisão. Deveria arriscar a estragar o casamento de anos por um único dia, uma única agressão? Sair com os filhos pequenos sem rumo na rua, talvez sem precisão? O que fazer então? Ela com tanta vergonha? Ela tão fragilizada? Ela se sentindo de mãos atadas?

      Lúcia virou angustia e inquietação. Ela tinha medo do marido, medo do futuro e revolta com sua condição. Pensando como mãe, achou que pelo bem de suas crias, era melhor ficar, calar e pedir aos anjos proteção.

      Dali por diante, Lúcia caia de joelhos para orar todos os dias, pedindo paz na família. Começou também a se policiar, falar baixo e pedir para as crianças pararem de brincar, para o barulho não desgostar o marido, pois nem ela nem os filhos, poderiam despertar a fera que vivia dentro do dele!

      A sorte para Lúcia, como num jogo, estava lançada.

      Que seja o que Deus quiser!


Kátia Pessoa – 17/02/2011



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