Quando a pessoa que parte é nosso companheiro, aquela pessoa que vive pela gente e a gente por ela, essa perda é desnorteante.
Saber que vamos ter que seguir a vida agora sozinhos, sem aquele apoio de quem se foi, é duro. Muito duro. Para alguns um sofrimento insuportável..."
Ele
não viveu! Eu juro que fiz tudo o que pude, mas ele não viveu!
Eu ficava horas e horas a fio ao seu lado
na cama, sem tirar os olhos dele. Não saia para nada. Nem dormia direito. Tinha
medo de não ouvir sua voz de suspiro me chamando: “Maria”. Era assim a noite
toda. Para ajudá-lo a satisfazer alguma necessidade. Ou carência dele mesmo.
Não queria se sentir sozinho. Eu pegava a sua mão e segurava. Apertava,
apertava, apertava... Por um longo tempo.
Às vezes eu perguntava à Deus: "Quanto
tempo mais vai durar este sofrimento? Para ele e para mim?" Não era fácil não!
Mesmo amando era um grande sacrifício! Ver ele assim doente... Magro e fraco em
cima de uma cama. Sem poder se mexer. Dependente de tudo. Logo ele, que sempre
foi tão vigoroso. De dia tão trabalhador e de noite quando me pegava... Era
tanto rola pra cá, rola pra lá... Era tanto amor. De tudo quanto é jeito! E
depois assim... Ele parado ali, esperando a morte, pois viver já não era mais esperança.
Meu coração parecia carne moída de tanta
dor. Meu homem na cama indo embora. E jovem ainda. Fora tão forte... Para mim,
tão belo...
Eu fiquei ali! Ao seu lado! Era minha
obrigação de mulher. Fiquei velando ele até o seu último suspiro. O último
suspiro dele me deixou vazia. Com um oco no peito. Com seu fim eu estava sozinha,
sem filhos e velha. Cansada e abatida.
Eu fui mulher bonita! Ainda o era, até antes
de sua doença! A maldita corroeu a carne dele e a minha. Agora sou carcaça sem viço.
Triste, triste. Cheia de melancolia...
Imediatamente após o enterro queimei
nossa cama de casal. Com mágoa e ódio! Nunca mais faria amor com ele nela. E ela fora a sua prisão! Nela ele se esvaiu
até acabar.
Será que ele já viu o Criador? Tá lá no
céu junto com os anjos, velando por mim?
Nada mais me prende aqui.
Me espera, meu amor! Me espera!
Eu já tô chegando...
Kátia Pessoa – 01/07/2010
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