sábado, 18 de dezembro de 2010

Santa Puta






      "E quando uma prostituta recolhe as lágrimas de um homem, protegendo-o em um abraço que lhe da forças e o ajuda a seguir em frente? Nessa hora ela é somente a puta que vende sexo, ou a santa que trata do corpo necessitado de um homem, ouve suas dores e lhe salva a vida?
      Abençoada não é a presença dela, nesta hora de tristeza?

      Se o começo desta relação se deu com um acordo financeiro, entre a prestadora de serviço e seu cliente, no desenrolar do ato se revela uma mulher que ampara um homem, fazendo por ele muito mais que outras de 'vida honesta'.

      Deixando o olhar preconceituoso de lado, isso não é bonito?"      


      Eu gosto do que faço! Em algumas civilizações, as mulheres que “acolhem os homens e iniciam os meninos”, são reverenciadas. Aqui no Brasil não. Aqui, “a mulher que acolhe os homens”, popularmente chamada de Puta, não tem reconhecida o valor de seu trabalho. Chupar bem um falo, “ceder” sua genitália e ousar usar outros orifícios, se não for por amor, vira um ato de menor valor, condenável. Quando isto envolve dinheiro então, a mulher que o pratica, vira uma afronta à boa moral da sociedade!

      Não cobro só dinheiro de meus clientes. Cobro desejo! O desejo de me ter, de me penetrar com seu falo em riste. De me banhar com sua saliva e me revirar em diversas posições, somente por luxuria. Eu cobro os seus corpos entregues ao meu, intensos, fortes, quentes e suados. Se para que tudo isso se dê, o primeiro passo é um acordo financeiro, depois de acertado o valor, o resto é só prazer! Dar e receber!

      Virgilio acabou de sair daqui agora. É meu cliente há anos. Sei que procura outras, mas sou eu a sua preferida. A que o deixa com uma sensação de um prazer completo. O corpo que goza, e a certeza de ser não só mais um homem que paga por sexo, mas um macho, que consegue dar prazer a uma fêmea exigente! Em mais uma visita ao meu quarto e a minha cama, ele teve aqui a fome de seu corpo saciada, com a sua glande passeando em mucosas e pele, roçando em dentes e pelos. Seu membro ereto, metamorfoseou-se de naja feroz, pronta para o ataque, para um animal que depois de nutrido, hiberna.

      Às vezes, como recompensa a mim, a mulher que acolheu o seu corpo com ardor e carinho, dando-lhe força para continuar a luta diária pela sobrevivência, o coração de um homem agradecido se abre, contando-me segredos, pelos orgasmos que lhe proporcionei. Alguns destes segredos, ditos entre soluços e choro, enquanto se aninham em meus braços como cria, que pede ajuda nos braços da mãe.

      Hoje, Virgílio me disse:

      - Eu não suporto mais este mundo!


Kátia Pessoa – 24/02/2010



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