Não a violência doméstica em suas diversas manifestações!
- Quê roupa é esta?
- O quê?
- Eu tô falando que roupa é esta?
- É o meu vestido de sempre, oras! Você não se lembra dele? Eu usava direto quando a gente namorava.
- Falou bem, quando a gente namorava. Agora a gente é casado, e você não usa mais isso!
- Não uso por quê? Ele é tão bonito. E você sempre gostou dele!
- Gostei. Não gosto mais.
- E porque você não gosta mais dele?
- Não gosto porque ele é chamativo.
- Não é não! Ele não tem decote e é comprido. Não tem nada demais!
- Os homens vão ficar te olhando, e eu não quero nenhum homem olhando pra minha mulher!
- Você tá louco, Orlando? Este é só um vestido como qualquer outro. Deixa de conversa, homem, que eu tô atrasada!
- Você não vai sair daqui com este vestido não! Pode ir pro quarto colocar uma roupa decente.
- Orlando, você não quer que eu vista uma roupa bonita? Você quer que eu fique feia, é? Apagada?
- Você é minha mulher. Me deve respeito!
- Eu sempre te respeitei, Orlando. E sou sua esposa, não sua propriedade. Eu vou sair com este vestido sim! Eu gosto dele e sempre o usei. Ele não tem nada demais.
- Clara, não me faz perder a cabeça!
- Orlando, já estou atrasada. Vou embora.
- Você não vai tirar o vestido não, sua safada? Então olha só o que eu faço com ele! Olha só!
- Para com isso, Orlando!
- Você quer que os machos fiquem te olhando, é? Sua puta!
- Para com isso, Orlando! Você está louco? Não rasga o meu vestido, não rasga!
- Tá satisfeita agora, vagabunda?
...
...
...
- Me desculpa, Clara! Me perdoa! Para de chorar.
Eu perdi a cabeça... Não sei o que aconteceu comigo... Eu não queria fazer aquilo...
Não chora, por favor! Não chora, meu amor!
A gente vai na loja e compra outro vestido pra você. O que você quiser. Custe o que custar.
Não chora, Clara! Não chora!
Eu juro que nunca mais vou magoar você.
Kátia Pessoa – 15/02/2012
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