quinta-feira, 19 de maio de 2011

Acorrentado






      "Nos últimos tempos temos visto na midia brasileira alguns casos de mães, pais e parentes, que não tendo como pagar tratamento médico para seus entes queridos, os mantinham em casa em condições precárias até mesmo presos à correntes. 
      É legitimo que fiquemos chocados com casos como estes, pois este é um tratamento desumano com uma pessoa que precisa de ajuda médica, mas precisamos avaliar tudo o que levou a esta situação, para o parente que "prende" não passar por vilão.
      Procedimentos como acorrentar, era o recurso que algumas pessoas humildes tinham para deixar seus filhos viciados em drogas vivos, já que não conseguiram apoio do governo para tratamento médico.
      Cada caso tem que se avaliado com muito cuidado, antes de se jogar a primeira pedra em quem erra tentando acertar."     

      Eu não sou má mãe, não sou! Deus é testemunha de como me sacrifico pelo meu filho. Eu só fiz isso pra salvar a vida dele. Se eu não fizesse isso ele morria, ele morria!

      Meu filho tá doente. Começou a usar essa porcaria de droga, e não consegue mais largar. Ele precisa de ajuda!

      Meu menino foi preso duas vezes, que vergonha meu Deus! Foi preso porque roubou trabalhador, pra comprar essas porcarias. Não foi isso que eu ensinei pra ele, não foi! Nas duas vezes que ele foi preso, eu fui lá na cadeia e conversei com o delegado, pra tirar meu menino de lá. Eu já dei várias surras nele. Dei conselho pra ele largar essa coisa, mas não resolveu. Ele saia de casa mesmo com eu brigando, e ia buscar mais desse lixo com os traficantes daqui.

      Ele tá com divida de droga, que ele pegou pra vender e usou. Como ele não pagou, os traficantes falaram que iam matar ele. Meu filho só tem treze anos! Que mãe cria filho pra morrer com treze anos? Mãe carrega filho na barriga, sofre as dores do parto, dá peito, cuida, é pra ver ele crescer. Virar homem feito, honesto. Pra arranjar uma mulher boa e nos dar netos. Não pra morrer com treze anos!

      Tratamento em clinica eu não consegui pra ele, porque não tinha vaga. Fui de um canto a outro e nada. Eu não podia deixar o meu menino morrer, não podia! Foi quando eu tive a idéia: Deixar ele acorrentado no concreto, pra não sair de casa. Só assim ele não usaria mais essas porcarias. Estaria protegido.

      Eu não tinha dinheiro nem pra corrente, cadeado, pra nada. Fui na loja de Seu Manoel chorando, pedindo pelo amor de Deus, ajuda pra uma mãe desesperada! Ele teve pena de mim, e me vendeu o material pra pagar depois, parcelado. Aí eu arrumei a obra.

      Fui eu mesma que fiz! Concretei o ferro no chão, e passei a corrente que amarrei em sua canela. Só deixei tamanho pra ele andar dentro de casa. Ir no fogão pegar comida. Ir no banheiro. Beber água. Com a corrente ele só não ia pra fora. É assim que tenho salvo o meu menino! É assim!

      Foi só com ele amarrado, que pude sair pra trabalhar com o coração tranquilo. Assim eu sabia, que quando eu chegasse em casa a noite, meu filho estaria me esperando. Não estendido morto no meio da rua!

      Agora deu de aparecer jornalista, policia, e não sei mais quem, aqui. Na minha porta. Um monte de gente pra falar comigo. Dizem que eu tô errada. Que não se faz isso com ninguém, muito menos com um filho. Que eu tô ferindo um tal de “direitos humanos dele”.

      Eu não sou má mãe, não sou!

     Eu só quero salvar o meu menino.


Kátia Pessoa – 18/02/2011



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