domingo, 20 de março de 2011

O bom Deputado



      "Muitas pessoas acreditam que todos os políticos são iguais, ou seja, que se elegem para viver à custa do povo e roubar o seu dinheiro. E motivos não faltam para que muitos pensem assim.
      Felizmente, há muitas pessoas honestas e dignas que estão ao lado do povo defendendo os seus interesses, que se candidatam e são eleitas. Estas pessoas fazem grande diferença, contribuindo para que as coisas no país melhorem. Apesar de serem muitas, elas ainda são poucas em comparação ao número de parlamentares que são eleitos, e não representam o povo.   
      Precisamos eleger mais pessoas boas e do povo, que lutem pelas causas de sua gente. É o povo que precisa assumir o governo. Não vai ser quem o explora e vive a custa de seu sofrimento, que vai representá-lo bem."  


      O bom Deputado não era só mais um parlamentar eleito. O bom Deputado era um homem honesto, um homem íntegro, disposto a lutar pelo seu povo. Por isso o bom Deputado disse não mais uma vez, para mais uma propina que lhe era oferecida.
      Seria tão fácil para o bom Deputado embolsar aqueles duzentos mil reais, que era em seu escritório trazido em sigilo por representante do capital. Para recebê-lo, bastava o bom Deputado se calar. Não se opor ao projeto de reforma que seria votado, deixando-o como estava. Conveniente ao “dono” da mala de dinheiro, que lucraria centenas de outras malas ainda mais recheadas que esta, que ao bom Deputado era oferecida.
      Mas o bom Deputado não era um corrupto. Um parlamentar que depois de eleito se esquece do povo, e só pensa em guarnecer seu bolso. O bom Deputado era um daqueles que dizem não, ao dinheiro tirado do povo à custa de seu sofrimento. Por isso, para a propina oferecida, o bom Deputado disse não e não continuaria a dizer, nem que a proposta quintuplicasse!
      O bom Deputado sabia que tinha o dever de bem representar o povo que o elegeu, retribuindo dignamente o voto de confiança  que deles havia recebido. Foram tantas as pessoas que levaram a bandeira de meu nome. Não! O bom Deputado não os trairia agora, recebendo propina. Duzentos, trezentos mil ou quanto mais fosse. Ele não aceitaria!
      O bom Deputado também era do povo. Viera de família muito pobre. Ele bem sabia que podia ser filho de qualquer uma daquelas pessoas simples, que apertara a mão quando fora pedir votos. Quem sabe no futuro, o filho de algum deles também se tornasse um bom Deputado, assim como ele? Mais um representante do povo no parlamento?  Tão poucas pessoas do povo chegavam nele...
      Na última eleição, o bom Deputado tivera cento e vinte mil votos. Foram cento e vinte mil pessoas que confiaram que ele lutaria por eles. Indignado com a propina oferecida, o bom Deputado fizera uma conta grosseira, somando os cento e vinte mil eleitores da última eleição, mais umas centenas de colaboradores que fizeram a sua campanha. Dividiu ele o número de pessoas obtido, pelos duzentos mil que lhe era oferecido agora, deu aproximadamente... Um real e sessenta centavos por pessoa! Um real e sessenta centavos! Este era o preço que lhe queriam pagar por "cabeça"?  
      Não! Decididamente, não! Disse o bom Deputado, pedindo que o representante do capital se retirasse. Pessoas não são peças vendíveis, as quais se negocia um preço “barato” e se vende aos milhares.
      Imagine, o bom Deputado trocar por um real e sessenta centavos o almoço feito na casa de Dona Maria, que lhe apresentou toda a sua família, e lhe contou de sua dificuldade com o dinheiro curto para sustentar os filhos pequenos, depois da morte do marido?
      Imagine, um real e sessenta centavos pela prosa com Seu Gumercindo, líder da associação de moradores de um bairro pobre, que ainda nem asfalto tinha? Um real e sessenta centavos! Esse seria o preço pelo qual o bom Deputado venderia, a confiança de cada funcionário de uma fabrica de pneus, onde Tonhão havia conseguido votos para ele?
      O bom Deputado sabia que todo ser humano valia bem mais do que isso. Todo ser humano de tão caro, tinha um valor incalculável!
      Pensando naquelas pessoas que conhecera, o bom Deputado se lembrava da sensação que dá um bom aperto de mão. Daqueles dados com firmeza, para se selar uma amizade ou relação de confiança. Se lembrava do paladar de diversos cafés, tomados em tantas e diferentes casas. Cada um com um toque especial de açúcar ou de intensidade do pó, dados pelas mãos de quem o preparara. O bom Deputado se lembrava também dos rostos atentos das pessoas, que pararam para ouvir suas propostas e acreditaram nelas...
       Não. Decididamente não! O bom Deputado não trairia essas pessoas. E por elas muito brigaria!
Kátia Pessoa – 20/03/2011
      

     
     

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