segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Mulher Anjo






      "Deus é pai de todos nós e nunca nos desampara!
      Independente de condição econômica, cor, religião, nacionalidade, etc. somos todos irmãos vivendo no planeta Terra.
      Cuidando de nós há infinitos anjos, encarnados e não encarnados.
      Eles estão ao nosso lado mesmo quando não os vemos ou reconhecemos.”


      Se alguém me perguntasse:

      - Deseja parar de fazer isso?

      Diria que não. Dá trabalho, bem sei. Mas gosto do que faço.

      Às vezes é uma dor. Do lado direito do peito. Não é o coração. É uma angustia que não é minha. Este é o fardo de uma “anja de guarda”. Dividir com os humanos a sua carga.

      Se tudo der muito certo, ninguém saberá de minha presença. Vão achar que de uma hora para outra, tudo passou. Se recuperaram sozinhos. Talvez nem a Deus agradeçam. São que nem São Tomé. “Não vi, não creio!” Mas, que criatura de Deus está sozinha? Deus sempre envia seus anjos em momentos de desespero. Sempre há ajuda. O problema é que muitas vezes, quando ela chega, não a reconhecemos! A ajuda fica ali, parada ao nosso lado, esperando e nós? Nos martirizando! Não a valorizamos, por achá-la pouca. Ela espera, espera, espera. De começo em pé. Depois puxa uma cadeira e senta. Cansada, apoia o queixo nos braços e solidária, envelhece ali, ao lado da gente, esperando o momento em que despertando o assistido, se de conta de sua presença. A ajuda é um anjo que vela. Vela por amor. 

      Eu sou assim. Anja da guarda. Anja, canja, anja...

      - Anja soa engraçado, não?

      Será que anjo é um substantivo comum de dois gêneros ou um epiceno, e eu, sou um “anjo fêmea”? Deixa para lá! Que importa nome? Nem no céu eu estou. Estou aqui na terra, encarnada. Fazendo “dupla jornada” de anja da guarda. Um serviço paralelo as tarefas diárias. Mulher é assim mesmo. Faz várias coisas ao mesmo tempo:

      - Ah, o ônibus atrasou e passou lotado de novo! (eu não acredito que ele já acordou chorando).

      - Segunda-feira. Minha mesa está amarrotada de serviço! (ele ainda não tomou café. Está pensativo).

      Ao assistido, meu coração diz: 

      - É mais um dia que começa e as coisas, vão ser melhores! (meu chefe está gritando meu nome.) Fé em Deus! Daqui a pouco eu volto!

      Após um almoço que passou rápido (uma hora é muito pouco. Mal dá tempo de escovar os dentes, bater o cartão) minha barriga está cheia, mas meu peito, ainda é um vazio só. O vazio que invadiu o meu protegido. É o do momento. Dificilmente fico com eles mais que dez dias. Você acha o quê? Anja da guarda encarnada, não é profissão de carteira assinada. É trabalho voluntário, embora eu ache muitas vezes, que é compulsório mesmo! Vou ver os caras morrendo, sem fazer nada? 

      - Pode cortar os pulsos, meu querido! Não tenho medo de sangue!

      - Chora. Chora mesmo! Se você beber todo esse copo de veneno, vai fazer a passagem. Ah, vai! Rapidinho!

      - Você está desesperado? Problema seu! Estou de TPM, e não quero mais me estressar. Adeus! Até a próxima encarnação!

      As pessoas não podem ser assim, tão egoístas.

      Compartilho discretamente com outros seres humanos, tantas coisas. E como elas cansam. Ah, se cansam... Esgotam minha energia e eu preciso de dias, para me recuperar. 

      Há pessoas que são só dor. Numa solidão que martiriza, tortura, mata. As vezes, meu coração sente essa dor de longe. Sintoniza, capta e lá vou eu, cuidar de conhecidos e desconhecidos! Ficar do lado de alguém que morre, esperando a hora em que seu corpo de alma, ficará vazio.

      Será que existem muitos como eu? Anjos encarnados, trabalhando para Deus na surdina? Quem será igual a mim?

      É estranho ser Mulher Anjo...


Kátia Pessoa – 29/03/2010



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