domingo, 8 de abril de 2012

Omissão de Socorro






      "Em briga de marido e mulher não se mete a colher! É mulher de malandro e gosta de apanhar! 
      Muitas pessoas ainda acreditam que frases como estas estão certas. Por conta disso, elas  não prestam socorro as mulheres que são agredidas.
       Em média, 10 mulheres são mortas por dia no Brasil, vitimas de seus companheiros."     
      

      - Benhê, escuta... Acho que o vizinho tá batendo na mulher dele de novo.

      - E eu com isso?

      - A briga tá feia.

      - Deixa eles pra lá! Vamos dormir, que amanhã a gente precisa acordar cedo pra trabalhar.

      ...

      - Bem... Benhê... Eles continuam brigando... Não é melhor a gente fazer alguma coisa. Sei lá? Chamar a polícia? E se ela estiver precisando de ajuda?

      - Clara, vai dormir! Isso é briga de casal.

      Além do mais, essa não é a primeira vez que eles brigam. E nem é a primeira vez que ele bate nela.

      Essa vizinha é uma mulher de malandro. Gosta de apanhar. O cara mete a porrada nela, mas ela não sai de casa. Não desgruda do macho.

      Se eu batesse em você, você ia continuar comigo? Ia não! Não ia porque você presta. É decente. Tem vergonha na cara. Se dá ao respeito. Não vamos perder o nosso tempo. Muito menos nosso sono!

      ...

      - Carlos... Carlos... Acorda! Eles continuam brigando... e a vizinha tá chorando. Eu nunca escutei ela chorar antes...

      - Quer saber de uma coisa? Eu vou dar um recado pra essa sem vergonha:

      “Apanha calada que tem gente precisando dormir!”

       - Carlos, seu monstro! Isso é coisa que se diga? A gente devia fazer algo...

      - Clara, me escuta: ela apanha porque quer! Se tivesse vergonha na cara, já tinha ido embora desta casa.

      Você está vendo algum vizinho preocupado com ela? Não está. E sabe por quê? Porque em briga de marido e mulher não se bota a colher! Ainda mais quando a mulher é sem vergonha. Apanha e não reclama.

      E se você não for dormir agora, Clara, e deixar essazinha pra lá, eu vou ficar muito chateado com você. Muito chateado, entendeu Clara?

      ...

      ...

      ...

      ...

      ...

      ...

      - Boa noite, amor! Cheguei mais cedo hoje porque fui fazer um serviço na rua... Clara, você está chorando? O que aconteceu?

      - A ... a vizinha....

      - Ah, a vizinha de novo! Dai-me paciência! O que foi agora?

      - Ele... ele... ele matou ela!

      - O quê?

      - Foi sim, Carlos... ele matou ela... ontem a noite, Carlos... ele estrangulou... ele estrangulou ela na sala... deixou a porta aberta... viram da rua ela estirada...

      - Meu Deus!

      - Ela chorou, Carlos... Ela chorou... Ela pediu socorro e ninguém ajudou... Nem a gente, Carlos... Nem a gente... que morava do lado dela!


Kátia Pessoa – 08/04/2012



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