quarta-feira, 18 de julho de 2012

O matador de estrela






       "Amor que mata não é amor. E doença, desiquilibrio, mas não amor!" 
   

      Você viu tudo, não foi estrela? Viu tudo o que eu fiz, não foi? Eu tô ligado em você, estrela. Eu tô ligado!

      Você fica aí em cima brilhante. Aí disfarçada entre as suas irmãs. Quieta como quem não quer nada. Como se tomasse a brisa despreocupada. Mas você está sempre prestando a atenção em tudo. Não está, estrela?

      Eu te vi brilhante no céu naquela noite. Não disfarça não, que eu olhei bem você. Marquei bem a sua fuça. Eu tô esperto com você, estrela! Tô de olho bem aberto! Eu aposto que agora você tá ai com as suas irmãs fuxicando. Falando mal de mim. O que você fala de mim pra elas, estrela? Conta pra mim, conta! Sua mexiriqueira!

       Não brinca comigo não, estrela! Não dê uma de gostosa. Fazendo de conta que nem é com você que falo. Igual à outra lá. Eu sei que você fica ai em cima rindo dos homens aqui em baixo. Fala se não fica, estrela? Rindo com um ar esnobe dos coitados apaixonados como eu? Você é como ela, estrela! Igualzinha! Sabia que eu posso dar um tiro na sua fuça agora mesmo, estrela? E acabar com todo esse seu brilho? Com essa sua alegria de puta? Por isso fique esperta, estrela! Não me provoque não! Que eu acabo com sua raça sem remorso. Te dou um tiro, viro as costas e vou embora. Sem dó, estrela! Sem dó!

      ...

      ...

      ...

      Estrela, eu não queria machucar minha flor. Muito menos matar meu amor. Mas eu não tive escolha, estrela. Você sabe! Você viu como tudo aconteceu. Você que fica ai em cima que nem Deus. Eu só queria sentir o corpo dela, estrela! O seu calor! Por isso esperei ela escondido na sombra do beco, estrela. E quando ela passou agarrei seu braço. Disse que estava apaixonado.

      Estrela, eu só queria dar um beijo nela. Um abraço. Ela não deixou, estrela! Não quis. Fez cara de nojo. De medo. Eu até implorei, estrela. Você viu. Cai de joelhos nos pés dela. Chorei. Eu só queria uma chance de fazer ela feliz, estrela! Só uma! Mas ela não quis saber. Quis correr. Quis gritar. Foi só por isso que dei um soco nela, estrela. Foi só pra ela se aquietar. Ela desmaiou, estrela. E ficou tão bonita no chão... Não resisti. Tirei sua roupa e fiz amor com ela. Você viu a gente fazendo amor. Não viu, estrela? Sei que viu. O corpo dela não era lindo, estrela? Uma perfeita flor...

      Estrela, eu tive que matar ela! Eu tive! Quando ela acordasse não seria mais minha. E eu nunca deixaria que ela fosse de outro. Eu dei um tiro na testa dela cheio de dor, estrela. Com o coração partido.

      ...

      ...

      Que foi, estrela? Que cara é esta? Eu não queria que as coisas terminassem assim. Mas terminou. Acabou! Já era!

      ...

      ...

      Até que você é bem bonita, estrela. Charmosa. Companheira. E calada. Eu prefiro mesmo mulher calada. Que não fica de nhenhenhém na cabeça da gente. Não discorda de nada.

      Estrela, acho que tô gostando de você. Tô apaixonado. Até que a gente forma um belo casal, estrela. Você não acha?

      Estrela, me dá um beijo?

      Se não me beijar eu te mato!


Kátia Pessoa – 21/06/2012




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